9.06.2022

Como fazer um Hotel Rural segundo o Arquiteto Rogério Ramos


Hotel Rural - Arquitecto Rogério Ramos

Na década de 50 três jovens arquitectos de nome João Archer de Carvalho, Manuel Nunes de Almeida e Rogério Ramos são contratados para desenhar um conjunto modernista em Trás-os-montes. Rogério Ramos ficará encarregue do desenho do Hotel ou Pousada no cimo de uma colina. No fundo o arquitecto o que nos deu foi uma lição de como fazer um hotel rural válida até aos dias de hoje. O arquitecto aponta os caminhos para desenhar um hotel rural de qualidade 

Entrada do Hotel Rural


 #1: Escolher o local Ideal 

O local perfeito para implantar uma pousada ou hotel rural é sempre discutível. Contudo, alguns valores são fundamentais. A ligação à natureza, as vistas desafogadas, e o silêncio são aspetos que todos apreciam. A nova pousada da EDP na aldeia do Picote em Miranda do Douro, foi o local escolhido para implantar o Hotel Rural mais inovador de Portugal. O arquitecto Rogério Ramos, inteligentemente decide colocá-lo no ponto mais alto.    

O projecto de arquitectura no topo do morro

#2: Contratar um arquiteto de qualidade

O arquiteto Rogério Ramos nasce em 1927 e termina o curso de Arquitetura na Escola Superior de Belas Artes em 1953. Ainda estudante trabalha para Arménio Losa e Carlos Loureiro. Em 1954 é contratado pela EDP para elaborar vários projetos entre os quais a Pousada.  Em suma, a escolha da EDP foi direcionada para um arquiteto disponível para as novas ideias de modernidade e com uma formação sólida na conhecida Escola do Porto. Esta escolha viria a tornar-se essencial.

Projecto do Arquitecto Rogério Ramos


 #3 Qualidade nos jardins exteriores

A criação espaços exteriores com diferentes qualidades permite que distintas atividades tenham lugar. No hotel do Picote vemos o exempli de um pátio protegido do vento e devidamente sombreado pelos edifícios exteriores. Ao mesmo tempo o estacionamento é organizado só numa zona. Cada uma das zonas restantes possui vistas e enquadramento deslumbrantes. O jardim exterior é assim o motivo organizador de toda a arquitectura. 


Jardim do Hotel Rural do Picote


#4 Organização modernista 

A arquitectura modernista de inspiração minimalista foi o tema escolhido pelo arquitecto Rogério Ramos para organizar todo a pousada. E esta estratégia percorre desde o mobiliário até ao edifício. Não havia aqui nenhum palácio para restaurar e Rogério Ramos não abdica das suas convicções e realiza uma obra prima de simplicidade e beleza. 
O arquitecto ramos mostra como o uso tradicional da madeira num hotel rural pode ser combinado com a utilização de materiais materiais modernistas como o betão armado. Os tecidos de algodão e pele natural do mobiliário mostram no fundo como os materiais naturais são de uma beleza estonteante.


Lareira da Sala de Estar


#5 Um edifício funcional

O hotel possui um corpo todo dedicado aos serviços e funcionários com acesso independente. Um das alas serve para acesso de viaturas e pessoas. O restante da planta do rés-do-chão dedica-se aos espaços comuns como restaurante e sala de jogos. Em cima estão os dois pisos de quartos. Em suma, a planta do hotel rural é de uma funcionalidade perfeita.
Planta do Hotel Rural

#6  Salas de estar acolhedoras

As salas de estar de um Hotel Rural luminoso são sempre mais confortáveis. No caso do Hotel do Picote a luz e o mobiliário cuidado deram um ambiente sofisticado e elegante. 

Sala de estar do Hotel Rural



#7 Salas de jantar confortáveis

Para além das vistas a sala de jantar possui cadeiras desenhadas propositadamente para o espaço. As linhas curvas e elegantes contrastam com as linhas rectas e as janelas de chão ao tecto. 

Sala de Jantar do Hotel Rural

#8 Quartos inovadores

Os quartos têm uma iluminação embutida no teto, armários encastrados e mobiliário transformável. Os sofás podem ser camas e as paredes possuem painéis de correr. Tudo isto é absolutamente inovador para a época. 


Quartos do Hotel Rural do Picote



#9 Estacionamento eficiente

O estacionamento é confortável debaixo de arborização. As árvores de outras latitudes foram escolhidas pela elegância e pela capacidade de sombreamento no verão e luminosidade no inverno.



#10 Caminhadas e percursos

Percursos com lages de betão geométricas permitem-nos passear pelo jardim e contemplar a paisagem num miradouro deslumbrante. A geometria e a natureza encontram-se nestes percursos de cortar a respiração.

Percurso para o Miradouro do Hotel Rural

Miradouro do Hotel Rural


#11 Conforto Térmico

Para além do sistema de aquecimento central previsto para o Inverno o Hotel rural de Rogério Ramos tem um importante sistema de alpendres que permitem o sombreamento no Inverno. Nos anos 50, a arquitectura passiva era já dominada por este arquitecto modernista de modo extraordinário.

Alpendre da Entrada do Hotel rural

#12 Vontade de Voltar

O imóvel da Pousada foi classificado como património no século XXI e em 2011 foi restaurado pelos arquitectos Fernandes e Cannata. Este Hotel Rural ficará para sempre na memória de todos os arquitectos como um exemplo muito à frente do seu tempo. 
Em suma, mesmo hoje, quando desenhamos um Hotel e estudamos o programa de necessidades, este exemplo do arquitecto Ramos ficará para sempre como uma referência incontornável.





Pátio do Hotel Rural


3.25.2022

O Hotel e o Arquitecto Alberto Pessoa

 Muitos Lisboetas cruzam diariamente com um edifício e desconhecem a sua história e a importancia que tem na arquitectura Portuguesa. No final da Avenida Infante santo existe um edifício que apesar de absolutamente extraordinário se encontra votado ao abandono.


A História do Hotel

Em 1955 uma importante empresa de construção de Lisboa de nome F. H. de Oliveira e Companhia Lda decide no terreno que já era sua propriedade e que possuía uma vista extraordinária desde a avenida Infante Santo para o Tejo. A carência de Hoteis na cidade de Lisboa era uma oportunidade que importava aproveitar no momento. 

O arquitecto Alberto Pessoa

O arquitecto Alberto Pessoa destacava-se nos anos 50 pelos edifícios que tinha projectado para a avenida Infante Santo pela sua modernidade e eficiência. Apresentava assim toda uma visão da cidade moderna e da arquitectura contemporânea aos lisboetas. Este facto não passou despercebido e acaba por ser contratado pela empresa F. H. de Oliveira e Companhia Lda para o desenho do seu novo Hotel em Lisboa. O arquitecto Alberto Pessoa ficará mais tarde conhecido pela co-autoria do edifício da Fundação Gulbenkian. 

As valências do novo Hotel em Lisboa

O programa do Hotel é aproveitado ao máximo. A construção do edifício é iniciada em 1956 e terminada em 1957. É classificado como hotel económico de 3 estrelas e oferecia 27 quartos, sendo 5 destes com uma pequena sala ou suite. à data todos tinham banho privativo, telefone e tv. Havia serviços de restauração com café e restaurante, cabeleireiro e lavandaria. 

O conceito de hotel 

É preciso entender que em 1955 o Hotel ainda era visto de um modo conservador e associado a edifícios de arquitectura clássica. O arquitecto Alberto Pessoa acreditava na modernidade mesmo nos edifícios de Hotelaria e a sua visão vai ser concretizada com um verdadeiro ícone do modernismo em Lisboa. O edifício parece levitar sobre um corpo baixo, tornando-se de uma simplicidade arrojada e enriquecendo a diversidade da paisagem de Lisboa..
Ainda hoje, sempre que trabalhamos o conceito de Hotel nos projetos do Atelier Utopia reflectimos neste exemplo. 

A necessária reabilitação do Hotel

Em 1983 O Inatel e o seu Instituto para p Aproveitamento dos Tempos Livres dos Trabalhadores compra o edifício e este serve de campos de férias até 1988. Em 1988 o edifício é encerrado por não se adequar às normas de hotelaria vigentes. Lamentavelmente a reabilitação e reconversão do Hotel é adiada e abandonada. O edifício ficará arrendado à Segurança Social que  nunca o utiliza e o abandona por completo. Hoje, propriedade do Inatel, é o exemplo do trabalho que falta fazer de renovação e reabilitação de edifícios em Lisboa.

As oportunidades da Hotelaria

Este edifício mostra as imensas oportunidades da Hotelaria em Lisboa ainda hoje. Neste caso um Hotel temático dos anos 50 poderia ser uma oferta turística que proporcionaria uma experiência única e salvaguardaria o legado do Arquitecto Alberto Pessoa e do fantástico percurso da arquitectura portuguesa contemporânea.
Mas melhor do que ler é ver as imagens do passado e as de hoje. Neste caso o antes e o depois. Só que aqui o depois é mais triste que o antes...



A avenida 24 de Julho e o Hotel em 1957



Vista da entrada do Hotel do Arquitecto Pessoa


A vista do Hotel desde Infante Santo na data de 1957


O gaveto de transito atribulado onde se encontra o Hotel


A Avenida Infante Santo e o Hotel do Arquiteto Pessoa nos dias de hoje.