Arquitecto Adalberto Libera - Casa Malaparte - Capri -1938
Há projectos e arquitectos que fogem a toda a lógica da arquitectura. Não encaixam em nenhuma gaveta da História. A casa Malaparte é por si só um movimento de vanguarda. É inclusivé superior aos seus próprios criadores.
Aliás é um desconforto para os arquitectos falar deste projecto...
Como falar dele depois do desprezo de Goddard?...De B.B. apanhar sol no seu terraço, de Fritz Lang navegar nas águas de Capri... Que dizer depois disto?
Bom...podemos tentar...
Adalberto Libera é um arquitecto modernista jovem italiano nascido em 1903. Malaparte é o cliente Burguês enriquecido na retoma do final dos anos trinta que pretende instalar a sua casa de férias na então calma ilha de Capri.
Adalberto libera desenha uma casa modernista: formas simples, terraço utilizável, espaços amplos e simples, generosas aberturas para o exterior. Mas desenha-a também segundo a tradição popular mediterrânica de Capri com janelas todas diferentes, com os ocres tradicionais e não cores primárias com faziam as vanguardas, e encaixada na rocha e não sobre pilares como qualquer modernista gostaria.
Isto seria suficiente para ser um projecto de um arquitecto acima da média.
Mas isto não ficaria assim.
Malaparte gostava de arte. E gostava não como um burguês que precisa que lhe digam o que é bom para gostar. Malaparte sabia do que queria gostar.
E começou a domesticar o projecto.
Libera aceita o desafio.
O resultado é estrondoso.
As janelas recebem molduras como se de quadros se tratassem.
A sala é tratada como um espaço amplo com mobiliário minimal que precede e anuncia a arte povera.
Uma lareira é exigida. Ao fim ao cabo era uma casa e não a máquina de habitar de Corbusier. Mas onde está a chaminé? Libera desenha um muro guarda-vento no terraço e incorpora o tubo na zona mais alta.
Simplesmente genial.
É no fundo, uma casa que é desenhada não pela cartilha das vanguardas estéticas mas por um cliente exigente e por um arquitecto extraordinariamente habilidoso.
Depois de um percurso esgotante, e após a casa construída, Adalberto Libera abandona o projecto e chateia-se com Malaparte.
Libera nunca mais faria algo tão extraordinário.
Malaparte não será mais conhecido, senão como um burguês endinheirado.
Hoje, mais de setenta anos depois, ninguém percebe porque se afastaram...Também ninguém sabe dizer ao certo de quem é a obra, porque Libera não tem mais nenhuma obra igual.
Esta casa fica como um paradigma incómodo. Incómodo para o artista arquitecto, incómodo para o mecenas cliente. Sempre incómodo.
E incómoda porque não nos cansa de perturbar, a sua sensibilidade a Capri, a sensibilidade ao mediterrãneo, e o seu ar trocista sobre toda a arquitectura moderna.
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P.S.:Não posso deixar de referir que esta casa esteve sempre presente nas discussões que tivemos no atelier de arquitectura da Utopia quando desenhamos a casa sustentável da Covilhã. Fica aqui a página com o projeto da casa ecológica em LSF.
Não deixa de ser também curioso que o famoso Le Corbusier desenhou um projecto para a ilha de Capri e que fica a cerca de 200 metros deste local. Nunca o divulgou. Consta que teve um problema semelhante em lidae com o cliente. O projecto, esse, pouco ou nada me disse quando lá estive e também não foi sequer publicado pelo mais famoso arquitecto da época...
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