12.27.2023

O Projeto industrial da Hoechst no Porto

Corria o ano de 1965 e era construído no Porto um dos mais belos exemplos de arquitectura moderna industrial. Os seus autores são o arquiteto Benjamim do Carmo e Klaus Heufer.

Benjamim do Carmo foi aluno de Marques da Silva e Carlos Ramos na Escola de Belas Artes do Porto. Era um profundo entusiasta da arquitectura moderna e são várias as obras em que é co-autor com arquitectos como Agostinho Ricca. A sua obra é pouco conhecida e raramente estudada. Trabalhava maioritariamente na zona norte de Portugal.

Klaus Heufer é um arquitecto alemão nascido na região de Westfalia.  Combate na segunda guerra mundial enquanto piloto e é abatido e tratado por um hospital americano. Trabalha para estudar no pós-guerra e conclui a licenciatura em arquitectura. Trabalha com ínúmeros arquitectos e acaba por fixar-se na Venezuela.

O desafio de desenhar a sede da multinacional química Hoechst une os dois arquitectos. No fundo ambos tinham o amor pela arquitectura moderna. Heufer é trazido pela empresa e Carmo é o arquiteto com o conhecimento do Porto.


Vista aérea do edifício em 1965

O edifício em 1965

O edifício é concebido como sede de empresa e local de produção de corantes e pigmentos para a indústria têxtil, o edifício da antiga Hoechst portuguesa desenvolve-se no âmbito das premissas da arquitectura racional, unindo dois volumes em forma de T. 


O edifício Hoechst nos dias de hoje
 

O primeiro volume apresenta uma cortina de vidro, uniforme e sugestiva, atesta a pluralidade do programa, que distribui as áreas de escritório, laboratório químico de anilina, área de farmácia e dispensário médico em quatro pisos.


A pala de entrada

O segundo volume é destinado ao armazenamento de produtos, contando com plataforma de carga e descarga e áreas de pesagem. Este aspecto funcional é interrompido, no entanto, por uma série de detalhes que enriquecem formalmente o conjunto e lhe conferem plasticidade. Assim, extrai novas propostas criativas dos efeitos alternados de luz e sombra na fachada de vidro, da cobertura recortada que cobre a casa do guarda ao nível do solo, da vigorosa pala que marca a entrada do edifício, revestida de azulejo colorido ou, ainda, a obra plástica do pavimento exterior, um mosaico composto por grelhas.

A fachada vista de Sul

A fachada principal desde Norte

A beleza e leveza da modernidade pode ser percebida, sobretudo, no tratamento diferenciado do primeiro piso, tanto pelo revestimento cerâmico pigmentado, que forma um padrão, quanto pelo recuo do painel da fachada, que é separado de suas funções de suporte por meio de uma lacuna contínua que se estende além dos limites do próprio edifício.

O átrio de entrada e a escada solta

No interior, os espaços são luminosos, fluidos e brem-se para o exterior. É notável a simplicidade da escada de entrada.

A zona de entrada e o pilar da pala

No fundo, o edifício Hoechst é um exemplo perfeito de edifício administrativo e industrial em que a funcionalidade e o conforto andam a par. O imóvel está classificado e não pode hoje ser alterado. É património arquitectónico nacional dada a originalidade da obra.

Ainda hoje, sempre que no gabinete de arquitetura pensamos em projetos industriais temos sempre em mente este magnífico exemplo de arquitetura modernista. 







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