Robin Hood Gardens, Poplar, East London, Smithson - 1972
Não é muito comum na história da arquitectura o aparecimento de arquitectas no debate internacional. Hoje surjem algumas e sobretudo isoladas, mas a verdade é que o passado recente foi bem diferente. É certo que o papel da arquitecta Aino Aalto na vida do marido ultrapassava os limites da relação pessoal entre os dois e são conhecidas as suas intervenções no seio do estudio. Todavia esse facto nunca foi conhecido para além dos círculos mais restritos do meio profissional dos arquitectos. Sabe-se também o papel de Denise Scott Brown e da sua intervenção no percurso de Robert Venturi, todavia o seu reconhecimento é restrito.
Mas existe um caso absolutamente inusitado que deu à História da Arquitectura um novo rumo: Alice e Peter Smithson. Não é descabido dizer que estes dois arquitectos revolucionaram o panorama da arquitectura do pós-guerra. Ficaram conhecidos como arquitectos Novos Brutalistas, todavia estas classificações serão demasiado redutoras.
Enquanto membros do movimento Team X, estes arquitectos repensaram toda a linguagem modernista, considerando que os projectos de arquitectura não têm que reproduzir as máquinas ou a estética da pintura ou da escultura. Para eles a arquitectura era mental e introduzem pela primeira vez a noção de conceito arquitectónico. Ora, a noção de conceito arquitectónico assenta mais na resposta aos modos de vida contemporâneos, aos materiais que a indústria ia introduzindo no momento e não se um edifício é mais ou menos bonito.
O projecto Robin Hood Gardens é um marco na medida em que pela primeira vez um conceito como a "rua no céu" (sky street) foi aplicado. Isto é, desenvolveu-se todo um bairro acedido por galerias ( as ruas elevadas) libertando espaço para os jardins e conseguindo dotar de habitação de baixo custo largas faixas da população pobre. Os materiais utilizados como o betão à vista e as canalizações visíveis a cores garridas faziam com que os custos fossem controlados.
Por isso foram considerados Brutalistas e muitas vezes até mal interpretados.
Contudo, sem eles, não haveria "welfare state" ou toda a Habitação Social europeia dos anos setenta.
Alice morre em 1993 e Peter Smithson retira-se profissionalmente acabando por falecer em 2003.
A noção do papel do arquitecto mudara e à semelhança de algumas lições de Gropius a arquitectura era muito mais um trabalho de equipa e menos de um qualquer personagem isolado com sobrenome pomposo. A arquitectura mudara e afastara-se aparentemente da pintura ou da arte. Aparentemente, porque na realidade, na realidade aproximara-se da sociedade.
P.S.: Deixo aqui uma referência especial aos arquitectos da Utopia pois, no que diz respeito ao desenvolvimento de uma arquitectura de equipa afastada do conceito de arquitecto como artista visionário isolado, estão a produzir trabalhos de enorme multidisciplinaridade.
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