Fotografias de : Ana Tostões "Os verdes anos da arquitectura Portuguesa dos anos 50"
Alguns arquitectos portugueses permanecem no esquecimento não se sabe muito bem porquê... Ou melhor, sabe-se, mas é relativamente inconveniente dizê-lo. Podem ser personagens fundadores do modernismo em Portugal, absolutamente revolucionários para a época, mas o simples facto de não alinharem no discurso político maioritário relega-os para segundo plano.
O arquitecto Ruy Jervis d'Athouguia é um destes exemplos. Politicamente militante pelas causas mais comuns à direita monárquica Portuguesa, viu a sua obra praticamente esquecida, senão deliberadamente omitida. Ana Tostões, honra lhe seja jeita, recoloca Athouguia na história da arquitectura poruguesa dando-lhe enorme destaque no seu livro "Os verdes anos da arquitectura portuguesa dos anos 50".
Se é evidente que este arquitecto era conservador, no que à politica diz respeito, relativamente à arquitectura a verdade é que está no que de mais revolucionário e inovador se fazia nos anos 50. E veja-se a qualidade técnica do detalhe minimalista, nas tangentes entre os acabamentos, no rigor conceptual dos planos e no uso dos muros de granito, adaptando as imagens "Miesianas" à tradição constructiva portuguesa.
Veja-se a Casa Sande e Castro. O que vemos? O arquitecto Souto de Moura a preto e branco? Um Barragán em Portugal? Não podemos deixar de reconhecer que todo o trabalho de adaptação da linguagem minimalista à cultura constructiva do lugar é feito com maestria já em 1956. Estes modelos ainda hoje mais de meio século são repetidos pelos arquitectos até à exaustão...
Aliás, ainda hoje no atelier onde colaboro com outros arquitetos do Porto nos aparecem clientes com imagens de revista a pedirem-nos projectos de casas com as mesmas referências...
Mas, imagine-se o quanto a sociedade mais conservadora (à qual Athouguia pertencia) consideraria a sua obra? Preso entre dois mundos, o conservador de direita que odeia a modernidade e o revolucionário de esquerda que tem ódio à aristocracia portuguesa, o arquitecto Athouguia ficará para sempre como uma voz autêntica do modernismo Português.
Ocultada, mas não esquecida...
P.S.: Athouguia é co-autor juntamente com os arquitectos Alberto Pessoa, Pedro Cid, Gonçalo Ribeiro Telles e António Viana Barreto de uma obra de enorme referência da modernidade portuguesa: Museu da Fundação Calouste Gulbenkian
Sem comentários:
Enviar um comentário