Corria o ano de 1965 e era construído no Porto um dos mais belos exemplos de arquitectura moderna industrial. Os seus autores são o arquiteto Benjamim do Carmo e Klaus Heufer.
Benjamim do Carmo foi aluno de Marques da Silva e Carlos Ramos na Escola de Belas Artes do Porto. Era um profundo entusiasta da arquitectura moderna e são várias as obras em que é co-autor com arquitectos como Agostinho Ricca. A sua obra é pouco conhecida e raramente estudada. Trabalhava maioritariamente na zona norte de Portugal.
Klaus Heufer é um arquitecto alemão nascido na região de Westfalia. Combate na segunda guerra mundial enquanto piloto e é abatido e tratado por um hospital americano. Trabalha para estudar no pós-guerra e conclui a licenciatura em arquitectura. Trabalha com ínúmeros arquitectos e acaba por fixar-se na Venezuela.
O desafio de desenhar a sede da multinacional química Hoechst une os dois arquitectos. No fundo ambos tinham o amor pela arquitectura moderna. Heufer é trazido pela empresa e Carmo é o arquiteto com o conhecimento do Porto.
Vista aérea do edifício em 1965 |
O edifício em 1965 |
O edifício é concebido como sede de empresa e local de produção de corantes e pigmentos para a indústria têxtil, o edifício da antiga Hoechst portuguesa desenvolve-se no âmbito das premissas da arquitectura racional, unindo dois volumes em forma de T.
O edifício Hoechst nos dias de hoje |
O primeiro volume apresenta uma cortina de vidro, uniforme e sugestiva, atesta a pluralidade do programa, que distribui as áreas de escritório, laboratório químico de anilina, área de farmácia e dispensário médico em quatro pisos.
A pala de entrada |
O segundo volume é destinado ao armazenamento de produtos, contando com plataforma de carga e descarga e áreas de pesagem. Este aspecto funcional é interrompido, no entanto, por uma série de detalhes que enriquecem formalmente o conjunto e lhe conferem plasticidade. Assim, extrai novas propostas criativas dos efeitos alternados de luz e sombra na fachada de vidro, da cobertura recortada que cobre a casa do guarda ao nível do solo, da vigorosa pala que marca a entrada do edifício, revestida de azulejo colorido ou, ainda, a obra plástica do pavimento exterior, um mosaico composto por grelhas.
A fachada vista de Sul |
A fachada principal desde Norte |
A beleza e leveza da modernidade pode ser percebida, sobretudo, no tratamento diferenciado do primeiro piso, tanto pelo revestimento cerâmico pigmentado, que forma um padrão, quanto pelo recuo do painel da fachada, que é separado de suas funções de suporte por meio de uma lacuna contínua que se estende além dos limites do próprio edifício.
O átrio de entrada e a escada solta |
A zona de entrada e o pilar da pala |
No fundo, o edifício Hoechst é um exemplo perfeito de edifício administrativo e industrial em que a funcionalidade e o conforto andam a par. O imóvel está classificado e não pode hoje ser alterado. É património arquitectónico nacional dada a originalidade da obra.
Ainda hoje, sempre que no gabinete de arquitetura pensamos em projetos industriais temos sempre em mente este magnífico exemplo de arquitetura modernista.