3.21.2009

A arquitecta Alice Smithson e o arquitecto Peter Smithson








Robin Hood Gardens, Poplar, East London, Smithson - 1972


Não é muito comum na história da arquitectura o aparecimento de arquitectas no debate internacional. Hoje surjem algumas e sobretudo isoladas, mas a verdade é que o passado recente foi bem diferente. É certo que o papel da arquitecta Aino Aalto na vida do marido ultrapassava os limites da relação pessoal entre os dois e são conhecidas as suas intervenções no seio do estudio. Todavia esse facto nunca foi conhecido para além dos círculos mais restritos do meio profissional dos arquitectos. Sabe-se também o papel de Denise Scott Brown e da sua intervenção no percurso de Robert Venturi, todavia o seu reconhecimento é restrito.
Mas existe um caso absolutamente inusitado que deu à História da Arquitectura um novo rumo: Alice e Peter Smithson. Não é descabido dizer que estes dois arquitectos revolucionaram o panorama da arquitectura do pós-guerra. Ficaram conhecidos como arquitectos Novos Brutalistas, todavia estas classificações serão demasiado redutoras.
Enquanto membros do movimento Team X, estes arquitectos repensaram toda a linguagem modernista, considerando que os projectos de arquitectura não têm que reproduzir as máquinas ou a estética da pintura ou da escultura. Para eles a arquitectura era mental e introduzem pela primeira vez a noção de conceito arquitectónico. Ora, a noção de conceito arquitectónico assenta mais na resposta aos modos de vida contemporâneos, aos materiais que a indústria ia introduzindo no momento e não se um edifício é mais ou menos bonito.
O projecto Robin Hood Gardens é um marco na medida em que pela primeira vez um conceito como a "rua no céu" (sky street) foi aplicado. Isto é, desenvolveu-se todo um bairro acedido por galerias ( as ruas elevadas) libertando espaço para os jardins e conseguindo dotar de habitação de baixo custo largas faixas da população pobre. Os materiais utilizados como o betão à vista e as canalizações visíveis a cores garridas faziam com que os custos fossem controlados.
Por isso foram considerados Brutalistas e muitas vezes até mal interpretados.
Contudo, sem eles, não haveria "welfare state" ou toda a Habitação Social europeia dos anos setenta.
Alice morre em 1993 e Peter Smithson retira-se profissionalmente acabando por falecer em 2003.
A noção do papel do arquitecto mudara e à semelhança de algumas lições de Gropius a arquitectura era muito mais um trabalho de equipa e menos de um qualquer personagem isolado com sobrenome pomposo. A arquitectura mudara e afastara-se aparentemente da pintura ou da arte. Aparentemente, porque na realidade, na realidade aproximara-se da sociedade.
P.S.: Deixo aqui uma referência especial aos arquitectos da Utopia pois, no que diz respeito ao desenvolvimento de uma arquitectura de equipa afastada do conceito de arquitecto como artista visionário isolado, estão a produzir trabalhos de enorme multidisciplinaridade.

3.08.2009

O arquitecto Coderch, os arquitectos e a arquitectura regionalista






Casa Ugalde - Coderch - Caldes d’Estrach - 1951

Coderch é uma arquitecto Catalão, católico, conservador politicamente e nalguns momentos activista politico de direita. Viveu entre 1913 e 1984. É em tudo semelhante ao percurso de Fernando Távora, com a excepção de ser um arquitecto mais novo.
Coderch não aceita a arquitectura moderna internacional e entende que esta devia estar baseada mais na Natureza do que na Indústria. Conhece e priva directamente com Alvar Aalto partilhando muitas das suas ideias sobre a arquitectura e a sua relação com os lugares ou regiões.
Coderch rejeita a arquitectura como uma máquina e entende que esta se deve relacionar mais com o corpo e com o lugar. É talvez o arquitecto que mais verdadeiramente valorizou o espírito do lugar enquanto factor determinante para a elaboração dos projectos de casas ou edifícios públicos.
A casa Ugalde é disso exemplo. A sua planta completamente orgânica e adaptada ao terreno permite que cada divisão se relacione de uma determinada forma com a paisagem e proporciona uma vivência ímpar na relação com a natureza envolvente. Neste projecto dezenas de árvores foram poupadas através da deformação da casa e ao mesmo tempo outras tantas foram plantadas.
Coderch deixa para a arquitectura certamente algo como a... pura poesia da natureza.

2.14.2009

A arquitectura do Porto e os Arquitectos Losa e Barbosa








Edifício Sá da Bandeira - 1946, Porto - Arménio Losa e Cassiano Barbosa

O arquitecto Arménio Losa e o arquitecto Cassiano Barbosa são dois arquitectos incontornáveis na história da arquitectura moderna portuguesa. Consolidam em grande medida o Porto enquanto centro da cultura arquitectónica moderna nos meados do século XX.
Em grande parte porque partilhavam com Távora, Viana de Lima, Carlos Ramos e tantos outros, o sentimento de que só no Porto se poderia fazer arquitectura moderna nesses anos 30, 40, 50 e 60. Essa dificuldade residia no facto de algum poder político vigente associar, infelizmente ( e sem qualquer fundamento) a arquitectura moderna aos movimentos revolucionários de esquerda que se radicalizavam por todo o lado. Curiosamente, nesta dupla de arquitectos, as posições políticas nem sequer eram bem coincidentes... Todavia a arquitectura moderna caminhou a passos largos e o Porto e Angola rechearam-se de exemplares de arquitectura de modernidade até aos dias de hoje.
Aliás, ainda hoje imensos arquitectos do Porto interpretam o seu legado de modo atento e cuisadoso.
Interpretando Walter Gropius, Le Corbusier e todo o modernismo europeu, colocam a cidade do Porto no roteiro da arquitectura moderna. É importante salientar que a sua modernidade não é a da cidade jardim de Corbusier ou a máquina de Gropius, as suas arquitecturas são profundamente delicadas com a cidade, são urbanas e integradas num contexto. Não pretendem manifestos ou egocêntrismos formais, pretendem encher os espaços de luz, higiene, funcionalidade, economia e respirar, nem que por um bocado, esse ar puro da modernidade escondida...

1.16.2009

Pieter Oud e Arquitectura Moderna nos projectos de casas






Johannes Pieter Oud - Bairro kiefhoek - Roterdão - 1925

Oud é um arquitecto Holandês relativamente conhecido no centro da Europa. É um grande impulsionador das vanguardas estéticas na arquitectura. Nos anos 20 é o arquitecto Municipal de Roterdão e tem a enorme responsabilidade de coordenar os projectos de novos bairros públicos para esta cidade. O que distingue Oud é a incorporação de modernidade nos projectos de casas a custos controlados e de áreas reduzidas. A arquitectura mantém-se de qualidade extraordinária e no entanto os orçamentos são extremamente reduzidos. Por outro lado, os projectos de habitação social não se infestaram dos erros urbanísticos tão comuns nesta época e mesmo nos nossos dias. A habitação social é integrada entre comércio e serviços, normalmente em gavetos, e faz com que estes pedaços de cidade nova se integrem em perfeita harmonia com o resto de Roterdão.
Infelizmente foi preciso cometer os graves erros da monofuncionalidade (bairros-dormitório)para que a lição se aprendesse e se pudesse analisar com cuidado e rigor o enorme legado da arquitectura de Oud.

1.10.2009

A Arquitectura e o Arquitecto Fernando Távora






Fernando távora-Quinta da Conceição-Matosinhos-1960

Fernando Távora é sem margem para dúvida um grande arquitecto moderno do XX português. A sua educação arquitectónica com o Mestre Carlos Ramos, seu professor, permitiu-lhe abrir os horizontes para a modernidade. Carlos Ramos não podendo ensinar arquitectura moderna em Lisboa, por diversas razões ( incluindo políticas ) desenvolve no Porto o curso de arquitectura na Faculdade de Belas Artes e convida Fernando Tavora para assistente. Estavam assim criadas as condições para o desenvolvimento da arquitectura moderna em Portugal em geral e a de Távora em particular.
Távora é um dos frequentadores dos CIAM e priva com Le Corbusier, Walter Gropius, Aalto entre outros...
A arquitectura de Távora é mais moderna do que a de qualquer outro arquitecto do século XX por uma razão muito simples: não havia quase nenhuma, isto é, Portugal era um país em que as vanguardas arquitectónicas tinham sido muito pouco ou nada exploradas.
Mas Távora não encara a arquitectura moderna como um modelo a seguir. Daí a sua singularidade. Távora percebe que a arquitectura moderna internacional era um conjunto de tendências que havia que digerir. Pretendia antes projectar a arquitectura moderna em Portugal, mas ARQUITECTURA PORTUGUESA. Essa é a sua grande lição de modernidade. Num certo sentido Távora já é um pós-moderno...tão moderno que era...
Se olharmos para a Quinta da Conceição em Matosinhos, verificamos o quanto este arquitecto português foi influenciado pela arquitectura minimalista de Barragán, pela arquitectura japonesa (grande fonte de inspiração das vanguardas do norte da europa), mas também pela arquitectura popular portuguesa e da sua deliciosa e cuidada relação entre a construção, a paisagem e a topografia.
A construção e a arquitectura moderna em Portugal ganham com Távora um rumo e um sentido. A arquitectura da modernidade poderia agora sair de Portugal para o mundo...e não somente o contrário.

12.31.2008

O arquitecto Otto Waggner e a arquitectura Vienense






Villa Wagner II - 1913 - Otto Wagner - Viena

Em pleno século XXI poderá parecer estranho chamar a Otto Wagner um pioneiro da Modernidade. Mas essa desconfiança rapidamente desaparece quando nos debruçamos sobre a verdadeira natureza da Arte Nova Vienense, da sua arquitectura e do papel do arquitecto em todo este contexto. A Arte Nova em Geral e a arquitectura de Wagner em particular é uma profunda evolução que se coloca sobre toda a tradição clássica. Na verdade, toda a linguagem clássica que resultava da utilização dos elementos construtivos e decorativos greco-romanos não é colocada de lado, mas é completamente geometrizada de acordo com as novas vanguardas estéticas que surgiam em todas as artes. Assim Wagner como arquitecto vienense que era trabalha o edifício aglomerando não só arquitectos como pintores e escultores. Ora, esses escultores e pintores não só contaminavam a arquitectura de modernidade como por ela se deixavam contaminar. A geometria começa a dominar e as cores surgem cada vez mais saturadas nas suas obras. Wagner é extraordinário se atentarmos que nasce em 1841 e é precisamente no fim da vida que os seus trabalhos se tornam mais recheados de modernismo. O projecto da Villa Wagner é exemplo desta fase mais avançada, em que os espaços clássicos se fundem com corrijas geometrizadas, vãos austeros e a decoração vanguardista contaminando e provocando a arquitectura.
Infelizmente, o arquitecto e o artista plástico, ou melhor, a arte e a arquitectura, não mais voltaram sequer a estar tão intimamente comprometidas com a modernidade...





12.16.2008

O projecto de arquitectura moderna de Wright





Frank Lloyd Wright - Casa Ennis - Los Angeles - 1924
Falar de Frank Lloyd Wright não é nada fácil, contudo é um arquitecto incontornável na modernidade da arquitectura. É preciso não esquecer que nasce em 1867 e falece em 1959. A sua obra percorre um dos momentos em que mais acelerou a História Universal, e em particular a Arquitectura. Contudo, existem características que fazem de Wright um arquitecto absolutamente singular. Em primeiro lugar, assiste a todos os movimentos artísticos que possamos imaginar, domesticando-os e adptando-os à sua própria forma de trabalhar. Isto é se tentarmos classificar os seus projectos, pura e simplesmente não conseguiremos. Então podemos colocar a pergunta: qual a sua singularidade? A sua singularidade reside no trabalho sobre o projecto de arquitectura na sua relação com o lugar, com o clima e com a construção. Tal atitude faz com que cada projecto seja um projecto e com que precorra todas as linguagens arquitectónicas sem que perdam consistência em cada lugar.
Vejamos a Casa Ennis de Los Angeles. Contraria em parte muitas das obras pelas quais Wright ficou famoso ( Gugenheim e Casa da Cascata ). Possui decoração, em vez de leve é pesada, e utiliza blocos de betão pré-fabricado que nos remontam para as linguagens das arquitecturas da américa do Sul pré-colombiana. Pois bem, Wright tinha o clima intenso da califórnia, tinha umas vistas explendidas sobre um vale, uns clientes que pretendiam uma privacidade extrema e um contexto de construção muito particular. O fascínio que possuía pelas arquitecturas da américa do sul fez por momentos esquecer as varandas em consola e a horizontalidade pelas quais tão conhecido ficou.
O projecto de arquitectura de Wright é um projecto comprometido com um tempo e um lugar que varia constantemente. Mas a lição do cuidado com o espírito do lugar... essa jamais a arquitectura moderna esquecerá...

11.15.2008

O projecto de arquitectura orgânica






Casa Schminke - Hans Scharoun - 1932
Hans Sharoun, arquitecto alemão (1893 1972), é talvez o percursor daquilo a que muitos consideraram a arquitectura orgânica dos anos 60.
Mas Scharoun ultrapassa ainda essa definição. Para além do facto de cada projecto de arquitectura seu possuir formas que nos remetem para a biologia existe um modo de encarar a luz e o espaço totalmente inovadoras. Isto é, o modernismo de Scharoun não nos remete para a repetição de elementos da indústria, mas antes para a criação de espaços que criem ambientes confortáveis. Não á a pretensão de ser industrial, a modernidade assenta na liberdade e todas as formas são possíveis. A casa Schminke é exemplo disto mesmo. Formas curvas convivem com espaços angulosos, plenos de luz e de relação com o exterior. Infelizmente, Sharoun nunca foi considerado um grande mestre do modernismo. E não o foi pela simples razão:
- Em 1932 Scharoun já estava no pós-modernismo...

10.23.2008

O projecto de arquitectura humanizado








Aldo Rossi - Cemitério de Móden - 1972 - Itália

Aldo Rossi é um dos mais importantes arquitectos pós-modernos.
A sua contribuição para a arquitectura assentou precisamente na sua capacidade de relativizar o modernismo e incluir a experiência pessoal do arquitecto com todos os seus sentimentos, memórias e emoções no centro do projecto de arquitectura.
O cemitério de módena é um dos exemplos mais extraordinários deste novo modo de sentir a arquitectura. O Projecto foi concebido como uma colagem de memórias visuais que Rossi acumulava da História da Arquitectura e como um autêntico monumento à sua capacidade de comover o usuário. No fundo é uma miniatura da cidade. Esta é a cidade onírica, esta é sem dúvida a cidade de Rossi...




9.14.2008

A arquitectura de Robert Venturi e Denise Brown





Casa Vanna Venturi, Philadelphia, 1964

Robert Venturi e Denise Scott Brown tiveram um papel absolutamente incontornável na arquitectura contemporânea. Embora hoje bastante esquecidos, eles alteraram todo o debate em torno da modernidade nos anos sessenta e setenta.
Basicamente puseram em questão todos os arquitectos que repetiam os modelos criados pelos pioneiros do modernismo no início do século. A sua actividade centrou-se não só na elaboração de projectos como no desenvolvimento de uma teoria que suportava a sua critica acérrima e a sua actividade projectual. "Complexidade e contradição em arquitectura" ou "Aprendendo em Las Vegas" são dois dos livros que mais espelharam a sua actividade teórica.
Nos seus livros criticaram duramente os arquitectos que projectavam casas como se tratassem de fábricas e a sua incapacidade de se motivarem com a cultura pop que estava em franco crescimento.
A casa Vanna Venturi é um dos exemplos mais paradigmáticos de todas as suas obras. Nesta obra marcante da segunda metade do século XX, a casa apresenta não só uma linguagem moderna como incorpora elementos da cultura popular americana como o telhado ou achaminé. Ao mesmo tempo recusa o simplismo da ortogonalidade, criamdo espaços complexos e oblícuos que se aproximam muito mais da natureza do ser humano.
Depois de Venturi o modernismo simplista que desenhava casas como barcos e reproduzia os modelos dos anos 20 até à exaustão estava definitivamente posto de lado...

7.27.2008

Walter Gropius arquitecto





Escola Bauhaus, Dessau , 1925

Walter Gropius é um arquitecto incontornável na modernidade de todo o século XX. Embora nasça em 1883 é um arquitecto cujo contributo passa não só pelas obras inovadoras mas também por toda a sua visionária actividade pedagógica.
Walter Gropius percebeu muito cedo que a inovação arquitectónica estava dependente da reformulação de todas as escolas de ensino de arquitectura e arte. Deste modo, é um dos principais fundadores da Bauhaus. A sua visão da aquitectura assentava no desenvolvimento de soluções adaptadas aos processos constructivos e produtivos que a Revolução Industrial proporcionava e não a uma mera atitude decorativa.
O edifício sede da Bauhaus espelha isso mesmo. Ou seja, um edifício funcional, despojado de decoração moderna e projectado de modo a ser funcional. Rompe com todos os estereótipos de simetria e de linguagem clássica que uma escola ostentava até então.
Apesar de nos parecer hoje uma escola de linguagem comum este edifício foi projectado em 1925. O ensino da arquitectura nunca mais seria o mesmo...