5.17.2010

Arquitecto Behrens e o projecto de licenciamento industrial






Fábrica de Turbinas AEG 1908 - Berlim -Arquitecto Behrens e Engenheiro Bernhard


O arquitecto Peter Behrens e o engenheiro Karl Bernhard são os projectistas responsáveis por uma autêntica revolução do modo de pensar o estudo e desenvolvimento dos projectos de licenciamento industrial actuais em todas as suas componentes.

Na realidade, e salvo algumas excepções ( mais tarde falaremos delas) , existe um pensamento antes, e um pensamento depois.
Poder-se-á dizer que o projecto de uma fábrica não era propriamente o terreno habitual de um arquitecto. A fábrica era olhada como um espaço de produção e com a adequação dos processos decorativos tradicionais e que se justapunham a tipologias de edificação do tipo basílica.
O engenheiro supria perfeitamente essa necessidade.
Mas em 1908 um arquitecto liderava a vanguarda do design alemão e é chamado para colaborar no desenho de uma fábrica da AEG com um engenheiro industrial. O resultado é insólito.
A fábrica é pensada como um edifício para impressionar tal como um produto industrial. Isto é, a fábrica é a marca da própria empresa e deve impressionar não só o cliente como o colaborador, vulgo empregado. E essa marca assenta na leveza, na modernidade, no conforto, na limpeza, na ordem, na eficácia e no custo. Só a forma do pilar tocar o embasamento daria um tratado de arquitectura! ( e seria copiado por Mies Van Der Rohe )
Nunca uma fábrica fora tão aberta ao exterior e nunca tinha sido conhecida pelo mundo inteiro como foi o caso da AEG. A marca de proveniência industrial ganhava os primeiros passos e os arquitectos e os engenheiros estavam condenados a entenderem-se...
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P.S.:Felizmente hoje , é para nós mais fácil, e muito graças a Behrens convencer os nossos clientes na Utopia arquitectos que a arquitectura e a marca da fábrica é algo de fundamental num projecto de licenciamento industrial. Obrigado AEG.

4.16.2010

O Arquitecto Libera e o projecto da Casa Malaparte







Arquitecto Adalberto Libera - Casa Malaparte - Capri -1938


Há projectos e arquitectos que fogem a toda a lógica da arquitectura. Não encaixam em nenhuma gaveta da História. A casa Malaparte é por si só um movimento de vanguarda. É inclusivé superior aos seus próprios criadores.
Aliás é um desconforto para os arquitectos falar deste projecto...
Como falar dele depois do desprezo de Goddard?...De B.B. apanhar sol no seu terraço, de Fritz Lang navegar nas águas de Capri... Que dizer depois disto?
Bom...podemos tentar...
Adalberto Libera é um arquitecto modernista jovem italiano nascido em 1903. Malaparte é o cliente Burguês enriquecido na retoma do final dos anos trinta que pretende instalar a sua casa de férias na então calma ilha de Capri.
Adalberto libera desenha uma casa modernista: formas simples, terraço utilizável, espaços amplos e simples, generosas aberturas para o exterior. Mas desenha-a também segundo a tradição popular mediterrânica de Capri com janelas todas diferentes, com os ocres tradicionais e não cores primárias com faziam as vanguardas, e encaixada na rocha e não sobre pilares como qualquer modernista gostaria.
Isto seria suficiente para ser um projecto de um arquitecto acima da média.
Mas isto não ficaria assim.
Malaparte gostava de arte. E gostava não como um burguês que precisa que lhe digam o que é bom para gostar. Malaparte sabia do que queria gostar.
E começou a domesticar o projecto.
Libera aceita o desafio.
O resultado é estrondoso.
As janelas recebem molduras como se de quadros se tratassem.
A sala é tratada como um espaço amplo com mobiliário minimal que precede e anuncia a arte povera.
Uma lareira é exigida. Ao fim ao cabo era uma casa e não a máquina de habitar de Corbusier. Mas onde está a chaminé? Libera desenha um muro guarda-vento no terraço e incorpora o tubo na zona mais alta.
Simplesmente genial.
É no fundo, uma casa que é desenhada não pela cartilha das vanguardas estéticas mas por um cliente exigente e por um arquitecto extraordinariamente habilidoso.
Depois de um percurso esgotante, e após a casa construída, Adalberto Libera abandona o projecto e chateia-se com Malaparte.
Libera nunca mais faria algo tão extraordinário.
Malaparte não será mais conhecido, senão como um burguês endinheirado.
Hoje, mais de setenta anos depois, ninguém percebe porque se afastaram...Também ninguém sabe dizer ao certo de quem é a obra, porque Libera não tem mais nenhuma obra igual.
Esta casa fica como um paradigma incómodo. Incómodo para o artista arquitecto, incómodo para o mecenas cliente. Sempre incómodo.
E incómoda porque não nos cansa de perturbar, a sua sensibilidade a Capri, a sensibilidade ao mediterrãneo, e o seu ar trocista sobre toda a arquitectura moderna.
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P.S.:Não posso deixar de referir que esta casa esteve sempre presente nas discussões que tivemos no atelier de arquitectura da Utopia quando desenhamos a casa sustentável da Covilhã. Fica aqui a página com o projeto da casa ecológica em LSF.
Não deixa de ser também curioso que o famoso Le Corbusier desenhou um projecto para a ilha de Capri e que fica a cerca de 200 metros deste local. Nunca o divulgou. Consta que teve um problema semelhante em lidae com o cliente. O projecto, esse, pouco ou nada me disse quando lá estive e também não foi sequer publicado pelo mais famoso arquitecto da época...

4.14.2010

Lar de Idosos do arquitecto Albert Kahn






Albert Kahn - Lar de Idosos de Griswold - Detroit - 1929

Não é muito conhecida, ou pelo menos muito debatida a relação entre a arte moderna e a "art déco" do séc XIX.
Contudo, se é verdade que em muitas situações representam abordagens opostas, noutras são a sua perfeita continuidade.
Um arquitecto alemão de seu nome Albert Kahn representa este último caso. Nasce em 1869 e a sua obra prolonga-se até aos anos 40 do século XX. Pouco conhecido na europa, vale a pena observar este vulto da art déco que se converte gradualmente ao movimento moderno. Na realidade os edifícios apresentam a cuidada composição das belas artes mas contêm já a organização funcional do movimento moderno.
O Lar de Idosos, ou residência de idosos se preferirem de Griswold em Detroit é exemplo disso mesmo. Foi desenhado para ser um Edifício de escritórios, todavia a sua modernidade e flexibilidade permitiu que fosse adaptado a um novo programa como um Lar de Idosos. A fachada de facto não ostenta a modernidade da planta, contudo poucos edifícios dos anos vinte se podem orgulhar de se adaptarem tão facilmente a programas modernos sem sofrerem grandes alterações na sua arquitectura como este do arquitecto Albert Kahn! Hoje o edifício está classificado como património, algo que nos EUA é de enorme importância.
A modernidade nem sempre estava na fachada, e em Detroit dos anos vinte a modernidade estava nos processos constructivos e na estrutura funcional do edifício.

Artigos Relacionados:
Lar de Idosos dos Arquitectos do Porto

3.08.2010

Gabinete de Arquitectos Modernos - equipa dinamarquesa







Unversidade Aarhus 1931- Copenhaga - Arquitectos Fisker, moller Stegman e Sorensen.

Os grupos de arquitectos foram ao logo da história da arquitectura sempre algo ignorados.
Na realidade o panorama arquitectónico sempre teve tendência a exaltar mais a genialidade de um arquitecto e menos o trabalho de equipa de uma firma ou de um grupo e arquitectos. Aliás, raramente os colaboradores dos grandes nomes individuais são referidos. Mesmo quando tiveram papeis determinantes(veja-se o caso de Pierre e Le Corbusier...)
Por isso mesmo creio ser importante revelar os resultados do trabalho de equipa de arquitectos e o que estes contribuiram para o desenvolvimento de uma arquitectura moderna.
Os arquitectos Fisker, Moller, Stegman e Sorensen são expoentes máximos da arquitectura mundial e infelizmente bastante desconhecidos. Os seus edifícios de tijolo não só inspiraram Alvar Aalto da Finlândia como muita da arquitectura nórdica dos nossos tempos. A integração com a natureza e a simplicidade de recursos formais são também uma das características principais dos edifícios.
A Universidade de Aarhus é exemplo desta atitude. O edifício é criado pelo arquitecto Fisker, pormenorizado e adapatdo pelos arquitectos Moller e Stegman e os arranjos exteriores são do arquitecto Sorensen. Entre eles uma empatia perfeita e o resultado é de uma coesão e qualidade extraordinária.
A arquitectura moderna sabia trabalhar em equipa e Gropius ainda não tinha ido para a América anunciar o "teamwork" para a arquitectura. Sim, Copenhaga estava à frente e pouca gente sabia...
Nota: Não é alheio nem inocente o facto de eu colaborar num gabinete de vários arquitectos e engenheiros no Porto e considerar que este processo de criação da arquitectura é frequentemente desconhecido do público em geral.

2.07.2010

Arquitectura moderna e o arquitecto De La Sota





Gobierno Civil de Tarragona - Tarragona -1956

De la Sota é um arquitecto essencial para entendermos a arquitectura moderna na Península Ibérica. A sua arquitectura é também percursora de muitos projectos que se iriam realizar por arquitectos modernos em Portugal e Espanha.
Nasce em 1913 na Galiza e estuda e leciona em Madrid. Os seus projectos permitiram-lhe a defesa da industrialização da construção e da apresentação da arquitectura moderna enquanto alternativa estética e constructiva à arquitectura clássica que era tão preferida pelo regime espanhol vigente.
A sede do governo civil de Tarragona é um exemplo extraordinário desta atitude de educar a sociedade e de promoção da nova construção industrial em aço e de toda a cultura estética moderna. Repare-se como De La Sota rejeita a tradição clássica com os vãos em esquina ou como expressa orgulhosamente a estrutura metálica. No entanto sentimos pela sua composição que estamos na mesma perante um edifício representativo da sede do Governo civil de Tarragona.
Eram tempos e locais difíceis para a arquitectura moderna de vanguarda...
Mas alguém se levantava e dizia que o caminho não era o classicismo. O caminho era definitivamente a modernidade.

1.16.2010

O Eco Hotel e o arquitecto Rossi



Hotel Mercure checkpoint charlie -Berlim - Arquitect Aldo Rossi- 1995
Hoje em dia a arquitectura sustentável e o turismo ecológico são temas de enorme preocupação. Mas estes temas não eram tamimportantes se recuarmos alguns anos. Deste modo só alguns arquitectos modernos e com visão de futuro se preocuparam com as cidades, a sua rehabilitação e o reaproveitamento da história. Nesse sentido creio que o arquitecto Aldo Rossi é exemplar. E exemplar é também a sua concepção do Hotel. Para Rossi o Hotel era um edifício que tinha que estar integrado na malha urbana, que tinha que reaproveitar ou reciclar alguns desses edifícios e projectar assim uma arquitectura moderna em estreita ligação com os recursos da história da cidade. No fundo é um percursor do Eco hotel ou eco turismo à frente do seu tempo.
O Hotel que o arquitecto Rossi projecta para Berlim recupera parte das fachadas de um quarteirão e reconstroi a restante parte. O arquitecto Rossi liberta o pátio do quarteirão para jardim, manifestando uma profunda preocupação ecológica com a cidade de Berlim. Ao mesmo tempo o arquitecto permite-nos olhar para Berlim e para o seu património com um olhar positivo e colorido.
A tipologia, a arquitectura do hotel estavam definitivamente marcadas por esta posição ecológica ou historicista perante a cidade e o turismo. Os arquitectos modernos eram agora aqueles que mais defendiam a História...
Artigos relacionados:
Arquitectos do Porto desenham um Hotel Ecológico no Douro.

12.14.2009

O arquitecto Felix Candela




Fábrica de rum Bacardi - 1960 - México

A História da arquitectura moderna é muias vezes vista, infelizmente como a história das vanguardas estéticas do centro da Europa, a fuga dos seus protagonista para os EUA e o Pós-guerra nos países do ocidente. Ora, como já vimos atrás, este é um facto falso. Em zonas periféricas às grandes potências económicas encontramos investigações extraordinárias e ímpares. O arquitecto Candela é um destes casos. Mexicano e num meio de recursos limitados teve a inteligência de desenvolver o que não se poderia fazer noutros lugares até mais desenvolvidos: estruturas de betão armado com espessuras que chegavam aos 5cm (poupando material e aproveitando a mão de-obra especializada e artesanal, mas barata e laboriosa)
Nenhum arquitecto da modernidade homenageou tanto a arquitectura gótica, e imagine-se onde!
Os espaços de Candela possuem uma extrordinária leveza e aproveitaram ao máximo as possibilidades do betão armado ou como dizem os nossos queridos amigos do Brasil, o concreto. O arquitecto Candela forma-se em arquitectura, mas estuda engenharia por si só e tranforma a engenharia em arquitectura.
A fábrica de rum Bacardi é exemplo de tudo isto. Com uma estrutura optimizada e gastando o mínimo de material possui uma dimensão e altura extrordinária e coloca de novo o México no mapa da arquitectura mundial tal como outros grandes vultos da arquitectura mexicana como Barragán. Assim se fez a arquitectura moderna de qualidade, dando autênticas lições de engenho e arte a países com muitos mais meios e recursos...

11.19.2009

Arquitecto Koenig e a arquitectura moderna





Projectos de Casas nº22 - Pierre Koening - Woods drive - California - 1960


Na américa do pós-guerra o debate acende-se quando os arquitetos discutem como elaborar casas económicas com sistemas industriais mas que ao mesmo tempo tenham qualidade excepcional. Este período é conhecido no estados da costa oeste como o período das "case study houses". Pierre Koening destaca-se com o seu caso de estudo nº 22 e é hoje um projecto de casa referência em todo o mundo.
A utilização do aço desta casa permite grandes vão envidraçados sem estrutura e enormes consolas sobre a paisagem. Ao mesmo tempo, a cozinha deixa de ser um espaço fechado e passa a pertencer à sala. A mulher tem outro papel na família e a casa adapta-se à nova sociedade.
Os arquitectos estavam atentos à mudança economica e social produzindo como reflexo experiências arquitectónicas absolutamente ímpares...

10.10.2009

Arquitecto Kenzo Tange






Igreja de S. Maria em Tokio - Kenzo Tange -1961

Nascido em 1913 no Japão, Kenzo Tange deixa um legado arquitectónico de projectos memorável. Falecido em 2005 o seu trabalho em prol de uma arquitectura mais moderna, mais simbólica, mais capaz de comover e simbolizar é de facto inigualável.
A igreja de S. Maria em Tokio é um exemplo de como a arquitectura moderna pode ser também capaz de comover e de simbolizar o divino ou rreligioso. A utilização de materiais aparentemente menos nobres foi um desafio ultrapassado com maestria. Se repararmos na sua cobertura curva de chapa e nas suas superfícies de betão à vista verificamos como estes materiais ganharam no desenho de Tange um significado totalmente diferente.
O arquitecto Kenzo Tange alcança o simbólico recorrendo a elementos conotados com a arquitectura industrial e transporta estes materiais para o vocabulario arquitectónico mais nobre. A utilização criteriosa da luz e dos materiais é sem dúvida a mais bela lição de arquitectura que o arquitecto Kenzo nos deixou...

9.12.2009

Arquitecto Klerk







Habitação social - amesterdão - 1920 - Arquitecto de Klerk


Michel de Klerk é um arquitecto holandês de amesterdão que nasce em 1884. A sua obra prolonga-se pelo século XX fora e ficou conhecido como um expoente máximo do expressionismo alemão.
Este arquitecto revoluciona o modo em como encaramos a arquitectura na medida em que os seus projectos são tratados como se tratassem de uma escultura. Na realidade, apesar do seu trabalho se ter centrado sobretudo em habitação social, o arquitecto de Klerk entendia que também estes projectos deverião possuir uma carga estética, não repetitiva e caracterizadora da cidade envolvente.
O projecto para o chamado "edifício barco" é um dos seus expoentes máximos. O arquitecto inspira-se nas formas curvas dos barcos que povoam amesterdão e desenha um edifício de habitação social extraordináriamente económico, funcional e singular do ponto de vista estético. O baixo orçamento não mais poderia ser desculpa para a baixa qualidade da habitação social. O arquitecto de Klerk comprova que com poucos recursos se pode fazer uma arquitectura explendida em qualidade e significado urbano.

8.09.2009

O arquitecto Mendelsohn e os arquitectos expressionistas







De la warr pavilion -Erich Mendelsohn - Sussex - Inglaterra - 1935

Erich Mendelsohn nasce em 1887 e morre em 1953. É um arquitecto judeu alemão que ficou conhecido como um dos arquitectos expoentes máximos da arquitectura expressionista do século XX.
A arquitectura expressionista e os arquitectos expressionistas caracterizavam-se por um desenho livre e emocional dos espaços e das formas. Assim, entendiam a arquitectura como uma manifestação não só das funções, mas também das emoções. Deste modo, a criação de formas curvas e espaços luminosos era um dos seus recursos mais correntes.
A arquitectura do pavilhão que Mendelsohn desenhou para Sussex em Inglaterra é disto exemplo.
Um edifício aberto para o mar, devidamente protegido com protecções solares, de formas curvilíneas e recheado de luminosidade.
Os arquitectos abrem os olhos para a arquitectura da sensualidade e da emoção e o arquitecto Mendelsohn passa a ser o símbolo dessa mesma transgressão.